Texto

"Vermelho

Faltava pouco para o jogo começar quando chegamos no bar, eu e o resto da turma. Apesar do lugar estar quase lotado, conseguimos ficar perto do telão porque o Garcia é amigo do dono do local. Por todo o lado, vários gritos de "Brasil!" e alguns poucos de "Portugal!" e até algumas vuvuzelas apareceram, dando um tom especialmente sul-africano, e irritante, à nossa torcida. Começou o jogo e, cerca de 30 minutos depois, não pude deixar de perceber aquela bela ruivinha que passou perto de nossa mesa. Ela vestia uma camiseta amarela justinha e uma calça preta, tinha lindos cabelos lisos e a pele bem branca.

Como era linda, parecia um anjo, pairando perto de nós. O jogo ainda estava zero a zero naquele momento e, depois de vê-la, perdi totalmente o meu interesse sobre ele. Fiquei acompanhando apenas os passos dela, que via o jogo com um grupo de amigas algumas mesas atrás da nossa. Disse para o Luca: "olha que linda aquela ruivinha". Ele concordou e me disse: "vai lá falar com ela". Fomos interrompidos por um chute forte do Luís Fabiano do "meio da rua", que atingiu em cheio o travessão. Seguia o zero o zero. Levantei para ir até ela, mas a ruivinha não estava mais sentada lá. Dei uma geral por todo o bar e não consegui encontrá-la. Decidi perguntar às amigas sobre ela e, para minha surpresa, elas disseram que não tinham nenhuma amiga ruiva. Será que elas estavam brincando comigo?

Voltei para a mesa, e o Luca confirmou que tinha visto ela. Que bom, pelo menos não estava louco. Gol do Brasil. Divido meus olhares entre a tela e a mesa dela, esperando por seu retorno. Brasil faz 2 a 0. No final, Portugal desconta. Termina o jogo, e nada dela aparecer. Dou uma última olhada para ver se volto à vê-la. Esforço inútil. Os caras vão embora, mas eu decido ficar um pouco mais na frente do bar, fumando uns dois ou três cigarros, esperando por ela.

Finalmente desisto, e decido ir para casa andando, aproveitando aquele belo e surpreendentemente quente começo de noite. Pelo caminho, noto que a cidade definitivamente entrou no clima da Copa, que sempre acaba voltando à tona, apesar de todos os problemas enfrentados por nós brasileiros e da convocação feita pelo Dunga. Olho para a Lua, que já reina no céu, e percebo que ela hoje brilha com tons nada discretos de vermelho. A ruivinha realmente era muito bela. Mal posso esperar pelo jogo das Oitavas-de-Final, já aguardando por uma nova chance de encontrar com ela..."