3/18/2016

A Bruxa

"I will guide thy hand."


Muito bom o filme "A Bruxa"("The VVitch: A New-England Folktale", 2015, Dur.: 92 min., Dir.: Robert Eggers), que traz várias cenas perturbadoras, uma história simples mas que consegue assustar e densas atuações de seu enxuto elenco. É um filme de horror verdadeiro, sem gritarias desnecessárias, explicações para o que está acontecendo ou efeitos especiais decorativos.


Na história, que se passa na Nova Inglaterra em 1630, um homem é banido de sua vila por desavenças com a Igreja e vai morar, junto com a esposa e os 5 filhos, numa fazenda próxima a uma sinistra floresta. Logo após a chegada no local o bebê da família desaparece misteriosamente(numa cena já bem famosa, vista em todos os trailers) e, a partir daí, a situação toda só piora.


A óbvia ameaça sobrenatural só é agravada pelas ações e inseguranças dos membros da religiosa família, que precisam lidar com a saudade de casa(afinal, são ingleses exilados na América), a solidão, a fome(já que a colheita é amaldiçoada), a opressão de sua fé e as pequenas e cotidianas mentiras, que são amplificadas pelo isolamento e, ao meu ver, pelos poderes da bruxa.


A feiticeira aparece logo no início em sua cabana na floresta e durante todo o tempo mantém-se bem próxima à família, assumindo diferentes formas e corroendo aos poucos a frágil paz do lar construído por William(Ralph Ineson) e Katherine(Kate Dickie).

O segundo membro da família a ser tocado pelo Mal é o corajoso Caleb(Harvey Scrimshaw), que faz tudo para ajudar seus parentes mas, ao mesmo tempo, não consegue deixar de sentir-se culpado pelos libidinosos pensamentos em relação à irmã mais velha, Thomasin(Anya Taylor-Joy).


A adolescente é a grande vítima da produção, pois vê a família mergulhar num verdadeiro inferno e ainda leva a culpa por todas as coisas ruins que acontecem. Quando Caleb é possuído, todos apontam os dedos para a pobre Thomasin, que não tem escolha a não ser entrar no jogo das acusações e colocar os levados gêmeos Mercy(Ellie Grainger) e Jonas(Lucas Dawson) na berlinda como prováveis praticantes de bruxaria.


O tormento vivido pela família gera algumas cenas fortes e bizarras, e toda a sequência derradeira é bem impactante, com direito à muito sangue, animais partindo para o ataque e até mesmo um pacto com o diabo. O final foge do convencional mas não me surpreendeu ou desapontou, pois estava meio na cara que a família já estava condenada no momento em que mudou-se para aquela parte da floresta.


Todo o drama vivido por Thomasin e companhia caminhou para o desfecho que foi apresentado, com a perda total da inocência, dos planos(citados por William em uma das cenas mais desoladoras e tocantes da produção), da esperança e - é claro - das almas dela e de seus familiares.


É, sem dúvida, um grande filme de terror, que encaixa-se na categoria das produções que mostram pouco mas assustam muito. Não há heróis, não há salvação, o Mal triunfa no final e ainda gargalha na nossa cara. O cinema acaba de ganhar mais uma grande bruxa para a sua galeria de personagens malignos. Nota: 8.

No comments: