4/13/2009

O Teste

Mais um texto de minha autoria:

"O Teste

Entrou no ônibus, que estava praticamente vazio, sentou no fundo e começou a prestar atenção nas ruas percorridas pelo coletivo. Mas, de repente, sua mente viu-se invadida pelos pensamentos dos demais passageiros.

Ouviu um velho que viajava nos bancos frontais indagando se estes eram seus últimos dias, pois não tinha dinheiro para os inúmeros remédios que necessitava.

De uma bela mulher que estava sentada bem perto dele, escutou vários questionamentos e decisões: será que sou bonita? será que ele vai me querer? por ele, eu farei qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.

Como se sempre tivesse esse dom, foi capaz de separar todos os pensamentos individualmente, concentrava-se em uma pessoa e as demais "vozes" sumiam. Ficou tão maravilhado com sua nova capacidade que perdeu sua parada. Viajou até o ponto final e, na parte derradeira do trajeto, viu-se imerso nos belos pensamentos que uma jovem mãe dedicava à seu filho.

Desceu do ônibus e, mesmo com várias pessoas ao seu redor, estava sozinho mais uma vez, não conseguia captar os pensamentos de mais ninguém. Sentiu-se perdido e desamparado.

"O ônibus, deve ser o ônibus", pensou e, no dia seguinte, repetiu o mesmo trajeto mas nada aconteceu. Tentou em vão por mais uma semana repetir a experiência. No trabalho, olhava fixamente para os colegas em busca de um mísero "ai psíquico" e, em troca, não recebia nada.

Em casa, buscou escutar as mentes de sua esposa e de seu filho, às vezes passava a noite em claro numa desesperada tentativa de mais uma vez encontrar os pensamentos de alguma outra pessoa.

Aquelas poucas horas no ônibus tinham mudado ele para sempre. Não conseguia mais viver sozinho, isolado, preso apenas com sua própria mente. Não conseguia encontrar nenhuma explicação para o que ocorrera. Teria sido apenas sua imaginação? A loucura teria sido a responsável por aquela insólita passagem de sua vida?

Descontrolado, exigiu dos céus uma resposta, que nunca veio. Subiu no telhado do prédio mais alto de sua rua, pensou mais uma vez em sua família e correu para a morte, estatelando-se na calçada.

Perto dali, uma misteriosa figura que à tudo observara balançou a cabeça, deu um meio sorriso e pensou: "Eles ainda não estão prontos...""

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