4/27/2009

Não me deixe

Mais um texto de minha autoria:

"Não Me Deixe

Estava prestes à dizer sim quando ele invadiu a Igreja, de forma desesperada, desvencilhou-se dos que tentaram detê-lo e veio na minha direção, correndo por sua vida, por sua felicidade.

Ficou de joelhos perante mim, olhou nos meus olhos, e disse apenas três palavras: "Não me deixe!"

E, então, imperou o silêncio, o desconfortável e escandaloso silêncio. Não sei quanto tempo ele durou, até ver o inesperado visitante ser retirado da minha presença, exausto, entregue, inconsolável.

Como ele soube? Após tanto tempo sem dar notícias, sem uma palavra sequer dita entre nós dois. E porque veio até mim, depois de tudo que aconteceu, da forma como nos separamos, do abismo que ficou entre nós, e tragou o nosso amor sem qualquer piedade?

Mas, ainda assim, ele veio. Descobriu o que eu ia fazer, e não aguentou. Não pôde suportar. Sim, algo deve ter sobrado, uma parte do que tivemos ainda estava viva nele, assim como sempre esteve em mim.

Fui levada para uma sala, para esperar o ruído passar, os ânimos se acalmarem, para esperar o momento certo do "sim" finalmente sair de minha boca, e sepultar para todo o sempre o passado e sua inconveniente visita daquele dia.

Olhei para baixo e me vi envolta pelo branco. O mesmo branco que me restou anos antes, quando partimos um do outro. Por toda a minha existência posterior, sua presença permaneceu junto à minha.

E, pelo jeito, ele vivenciara o mesmo.

Lá estava eu, entre o certo e o que foi sempre incerto. Entre a luz e as convidativas trevas. Entre a ordem e o sedutor caos. Porque ele esperou tanto? Como eu adorava aquele doce caos, que me alimentava, me deliciava, me fazia até feliz.

"Não me deixe!" Palavras belas, ou simplesmente loucas, pois o tempo, afinal, passou. "Não me deixe!", suplicou, como se eu fôsse capaz de realmente deixá-lo algum dia, mesmo com uma aliança em meu dedo.

Olhou nos meus olhos, e eu pude ver que ainda estava lá, junto com ele, apesar de todas as brigas que tivemos, da ausência, da dor, da aparente incerteza. Sou uma tola, pois tento me enganar achando que há outra saída possível, que pode existir outra conclusão para esta história.

"Não me deixe", outros lábios disseram quando eu aceitei minha sina, e parti em busca do que estava em suspensão, adormecido em nós dois. Será que ia durar? Como se importasse. Deixei a catedral e nem sequer olhei para trás."

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