4/03/2008

Carrossel

Publico abaixo uma pequena história de minha autoria:


"CARROSSEL

O que eu sempre soube sobre mim. é que eu nunca tive muita sorte.

Após algum tempo, passei a não mais me importar com este triste fato que afeta a minha pessoa.

Sempre convivi, também, com a raiva, uma raiva que crescia em meu ser desde que eu era pequeno, e me levava a fazer coisas horríveis.

É bom poder culpar a insanidade quando não resta mais ninguém a culpar.

Quando percebi, já não havia mais como voltar atrás.

Lá estava eu, com as mãos sujas, com holofotes gigantes indicando a minha localização, restava muito pouco tempo.

Precisava me proteger, precisava eliminar a razão de tudo aquilo ter acontecido.

De quem era a culpa?

A culpa pertencia às cores, às belas cores, que abduziram o meu olhar, que atormentaram os meus pensamentos, que conduziram meus passos, que me dominaram totalmente.

A culpa pertencia aos sons e, principalmente, ao desejo, ao doce desejo que vivia incrustado no meu cérebro, e cegava meus olhos para a tola verdade.

Tinha que correr, tinha que correr, e fazer os movimentos exatos.

Tinha que fazer aquela dança uma última vez, os passos tinham que ser perfeitos.

Confesso que foi tudo muito fácil, e quando notei o redemoinho já levava embora tudo que tinha restado daquela inesquecível experiência.

Bem, não tudo.

Aquele fantasma nunca deixou de me assombrar.

Ele vive ao meu lado, e eu até aprecio a sua companhia.

Aquela não foi a primeira vez, e certamente não foi a última.

O azar e a raiva são bons companheiros, que nunca me deixam na mão.

Especialmente quando me dá vontade de andar de carrossel."

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