4/27/2011

Poema

Mais um soneto de Pablo Neruda:

"Pensei morrer, senti de perto o frio,
e de quanto vivi só a ti deixava:
tua boca eram meu dia e minha noite terrestres
e tua pele a república fundada por meus beijos.

Nesse instante terminaram os livros,
a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,
a casa transparente que tu e eu construímos:
tudo deixou de ser, menos teus olhos.

Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,
é simplesmente uma onda alta sobre as ondas
mas quando a morte vem tocar a porta

há teu olhar apenas para tanto vazio,
só tua claridade para não seguir sendo,
só teu amor para fechar a sombra."

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