4/17/2012

A Caixa

"A Caixa

Não poderia existir uma noite melhor do que aquela para a nossa despedida. No dia seguinte, ele partiu para a guerra, e já está fora há tento tempo que nem sequer ouso começar a pensar sobre o assunto. Cerca de um mês atrás, começaram os pesadelos sobre sua morte, cada um mais horrível do que o anterior. Mas, pelo menos, nós temos aquela noite. Aquela mágica noite de setembro. A noite em que ele me deu a caixa. Ficamos conversando por horas e horas. Saboreamos nossas comidas favoritas. Praticamente viramos uma só pessoa em alguns momentos. E, quando acordamos, recebi a caixa de suas mãos trêmulas. Trêmulas não por causa de alguma dúvida ou receio. Nem por causa de algum medo. Mas de emoção. Virei a orgulhosa protetora da mais bela faceta de meu amado. Da coisa pela qual valia à pena lutar naquele sinistro combate que corrompe tantos de nós geração após geração. Depois das primeiras derrotas devastadoras, aprendemos que não podíamos mergulhar inteiros. Tínhamos que ter uma âncora para poder atravessar. Tínhamos que deixar para trás alguém que amássemos. Tínhamos que deixar a caixa para essa pessoa. Só assim teríamos alguma chance. Só assim poderíamos encarar tamanho horror de igual para igual. E aqui estou, sobrevivendo por causa daquela noite. Ainda suportando o peso de estar sozinha apenas por causa da caixa e de seu inestimável conteúdo."

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